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Scar Tissue

Summary:

Três dias se passaram desde aquela fatídica noite. Completamente desgostoso e abraçando completamente sua solidão, Alucard se encontra na frente de um espelho quebrado e virando garrafa de vinho na boca, tentando se embriagar pela oitava vez naquele único dia. No entanto, antes que ele pudesse fazer isso, sentiu uma presença incomum na porta de sua casa e querendo um pouco de silêncio, resolveu investigar.

Ele só não imaginava que uma pessoa que havia desaparecido de sua vida há muito tempo, pudesse retornar para perturbar seu silêncio.

Essa é a história de um homem com um coração quebrado e uma mulher, que apesar de se sentir amaldiçoada, se mantém espirituosa. Duas pessoas que, apesar de diferentes, possuem marcas e cicatrizes, que os tornam semelhantes.

Notes:

Então, aqui estou eu, com a minha primeira história, nesse site que tanto amo! Faz um tempo que eu queria escrever uma história que desse ao nosso querido Alucard/Adrian uma chance para ser feliz. O destino dele nos jogos me deixa um pouco triste e espero que a série não dê esse mesmo destino para ele. Acho que como qualquer outra pessoa, nosso anjo loiro merece um final feliz com uma esposa, um marido (Nunca se sabe, né (. ❛ ᴗ ❛.) ), amante ou um companheiro para ele ou sei lá.

Não gosto de vê-lo quebrado.

Enfim, aproveitem essa história que demorei 3 meses para pensar e produzir. Ela se tornou o meu xodózinho.

Aproveitem essa belezura!

(Para os falantes de inglês: Fiquem a vontade para ler minha história também! Quando eu ficar fluente, pretendo postar uma versão em inglês, mas no momento, não confio no Google tradutor pra escrever (mas confio pra ler, né. Enfim, a hipocrisia.) De qualquer maneira, podem postar seus comentários e críticas m inglês, acreditem, vai me ajudar muito!)

"Enjoy It!" (ʃƪ^3^)

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: Your heartbeat

Chapter Text

Não pare de lutar. 

 

Maeve pensa enquanto usava suas pistolas para atirar desesperadamente contra essas criaturas da noite. Alaúde, persista, não desista!

 

Uma floresta nunca pareceu tão grande para ela, como agora. O desespero e o medo dispersa sua percepção, pois agora, tudo se tornou grande e assustador. A noite mal começou, mas Maeve sentiu como se estivesse correndo há horas e já estava padecendo dos "pequenos" ferimentos causados pelas lâmias que serviam ao seu pai. "Eu quero que você seja a mais forte. Seus irmãos passam por isso sem questionar. Portanto, faça o mesmo." Essas foram as palavras dele. Forte o suficiente para viver uma vida fugindo e lutando, mas fraca o suficiente para morrer se caso tudo desse errado. Ela era apenas algo que não deveria ter nascido, o fruto proibido de uma mulher azarada que morreu apenas por querer ajudar pessoas. A visão da morte dela era peso que Maeve carregará para toda a vida. Em sua fuga, por um passo em falso a jovem mestiça erra vários alvos. Aquilo só servia para atrasá-la, mas ela não parecia se importar. Apesar de estar extremamente machucada e morrendo de dores, enquanto seu coração batesse e seu pulmão recebia ar, ela continuaria lutando.

 

É por causa disso que Maeve está viva agora. Porque sempre lutou e se depender de sua determinação, ela continuará lutando. A mestiça perdeu a sua mãe na fogueira, por causa de uma falsa acusação de bruxaria e seu pai, mesmo sendo relativamente presente na sua vida, ainda é um homem misterioso; entretanto, Maeve se sente grata pela "educação" que seu pai lhe deu nos anos que ficou sozinha. Ela se lembra, claro como o céu que a cercava nas manhãs frias de inverno, uma menina abandonada à própria sorte pelas pessoas que sua mãe tentou ajudar. Ninguém se sente louco o suficiente para se aproximar da "filha da bruxa", ninguém vai estender a mão para a fonte de forte azar que ela é, nada menos que lixo. Por um milagre, Maeve foi acolhida por seu pai e, apesar de não poder chamá-lo de "família", se dispôs do luxo de absorver todo o tipo de conhecimento sobre magia, alquimia e ensinamentos arcaicos que um ser maldito como ela poderia ter, além dos ensinamentos que recebia de seus mestres quando concluía algum círculo. Parar de chorar e começar a ouvir, foi uma boa decisão no final, já que conseguiu completar todos os desafios impostos por seu pai e mestres enquanto estava no inferno. Porém, cerca de um mês atrás, enquanto tentava atravessar o corredor infinito, um viajante inesperado acabou por empurrá-la de volta para o terceiro círculo, esgotando todas as suas energias. Ela poderia dizer que foi o pior mês, se não o pior momento de sua vida; entretanto, não era uma mais uma menina que queria sobreviver ficando cada vez mais forte e sim uma mulher, que tinha um objetivo em mente e faria tudo para alcançá-lo, mas quando finalmente conseguiu poder suficiente para voltar para o mundo humano, um idiota consegue estragar tudo e agora, estava fugindo de criaturas que deveriam obedecê-la. Que irônico, ela pensa, seres que em condições normais me respeitariam como alguém superior a eles, agora me caçam como se eu fosse uma presa comum.

 

Um grunhido sai de sua garganta. Maeve se perguntava amargamente o que havia feito de errado e qual foi o pecado terrível que havia cometido em sua vida passada para sofrer tanto em sua vida atual. Seu corpo todo está dolorido, ficou vários dias sob efeito do veneno das lâmias, enquanto dormia dentro de troncos de árvores para se esconder das harpias durante a noite. Ela estava cansada, mas se mantinha lutando, era o que sua mãe gostaria, nunca desistir e sempre lutar! Suas pernas tremiam e estremecia por conta da fraqueza e vez ou outra, escorregava e tropeçava na lama. Tudo estava indo de mal a pior, sua vida estava de cabeça pra baixo e por um momento, Maeve pensa em recorrer para o seu "outro lado". Se sente tentada a fazer isso, mas estava fraca demais e esgotada demais para fazer qualquer tipo de transformação. Ela nunca teve muito controle sobre sua outra natureza e no momento, ficar dias sem poder viajar para se esconder dos humanos não era uma opção . 

Mesmo parecendo arriscado, a jovem cambion decide parar e começar a prestar atenção na área ao seu redor. Ela se apoia em uma árvore perto de um rio e se permite prestar atenção nas coisas ao seu redor. A chuva e o som de alguns animais, trazem uma sensação de calmaria em seu coração, há anos ela não sentia a água batendo em seu rosto e lavando suas lágrimas. Isso faz com que Maeve solte um suspiro aliviado e em seguida, usa seu poder para sentir as emoções e os sons da floresta que a cercava. Nada parecia incomum, conseguia sentir a liberdade dos animais e a calmaria presente nas árvores que, diferente das árvores existentes no Sétimo Círculo que a bombardearam com todo tipo de sentimento ruim, as árvores do mundo humano emitiam um sentimento de paz e tranquilidade. Jamais esqueceria das emoções contidas naquele lugar horrível. Bem, aquele Vale não era um lugar feito para uma sensitiva como ela, era doloroso demais. Depois de se perder nos próprios pensamentos e nas emoções presentes no ambiente, a mestiça ouve o triste som de um coração batendo e dessa vez, lágrimas que não eram dela começaram a cair de seus olhos e um sentimento de embriaguez tomou conta de seu corpo, junto com vários outros sentimentos como culpa, raiva, medo, nojo, tristeza e principalmente, solidão. "Pobre alma, eu queria poder ajudar-te." pensou a morena, desviando seu foco para o ambiente que a cercava. Olhando ao seu redor, logo ela percebe que despistou como criaturas, embora pudesse ouvi-los não muito longe. A mulher se permite andar mais devagar, encostando nas árvores buscando fôlego e um controle maior nas batidas de seu coração. Tudo está errado. Ela sabe que nada disso é culpa dela, mas não pôde deixar de se sentir culpada apenas por existir, que se seus pais não tivessem se conhecido, sua mãe não teria sido morta e seu pai, não teria amaldiçoado o antigo vilarejo onde vivia. Nada disso acontecido se não existisse. Toda sua dor, sua angústia, seu sofrimento, sua tristeza e as mais terríveis coisas que aconteceram e ainda acontecem em sua vida, é culpa de sua existência. Uma parte de Maeve se sente aliviada, que as pessoas que conspiraram contra sua mãe, os culpados de tudo isso sofrendo, rastejando nos confins do inferno. Embora, ela também soubesse que seu pai se divertia como custas do sofrimento daquelas pessoas, como um bom voyeur sadista. Ele deve estar rindo da cara daquele bispo desgraçado enquanto assiste sua tortura com outros demônios.

 

Os cabelos escuros atrapalham a sua visão, mas quem se importa? Esse é o menor dos problemas no momento. "Sua vaidade não vai te salvar agora, Maeve." Pensou frustrada, logo continuando a linha de raciocínio "e falando em vaidade..." Maeve logo percebe um reflexo de si na água do rio próximo a si. Os  cabelos estavam bagunçados e repleto de nós já que não penteava as madeixas escuras há meses, havia lama, sujeira e sangue seco em suas roupas, sem contar o corte no abdômen que se recusava a se fechar. Bem, a cauda longa estava fazendo um ótimo trabalho estancando o sangramento. Seria um azar terrível encontrar um vampiro nesse momento, o sangue de um meio-demônio costuma ser muito apreciado entre os vampiros e bem, a mestiça não apreciava a ideia de ser o almoço ou o jantar de alguém. Obviamente, essa regra não se aplicava a Criaturas da Noite, como aquelas que perseguiam a morena, Maeve tinha consciência de que não possui uma carne muito apetitosa. Provavelmente, largariam seu corpo quase morto no meio do nada com chances mínimas de recuperação. Bem, era melhor perder um ou dois membros do que a vida.

 

A chuva começou a ficar mais forte, a bruxa tampa os ouvidos para abafar o som dos trovões e sente o chão vibrar. Ela estava desesperada e precisava procurar um abrigo.

 

Maeve tira as mãos dos ouvidos para voltar a focar todos os seus sentidos para procurar um lugar seguro. A mestiça respira com dificuldade e começa a ouvir um som de animais, o som da chuva e também, aquele triste batimento cardíaco. Maeve se alimenta de esperanças, até que seu olfato fareja algo ruim, desagradável e que deixa com um embrulho horrível no estômago. Ela abre os olhos e foca nesse odor, mas também foca no coração batendo que se afasta lentamente. 

 

— Sinto cheiro de morte… — Maeve sussurra, antes de voltar a ouvir aquelas criaturas se aproximando. 

 

Merda. Ela pensa. 

 

Maeve volta a correr e avista um enorme castelo próximo às árvores. Apesar do incômodo cheiro vir de lá, a mestiça se sente forçada a ir, pois parece ser o abrigo único seguro o suficiente disponível agora. Se tiver que lutar com criaturas noturnas e mais alguém, ela vai lutar. Afinal de contas, ela não quer que a morrer assim tão fácilmente.

 

Correndo por sua vida, a morena lança alguns feitiços de gelo para atrasar as criaturas, acabando por tropeçar na raíz de uma árvore e rolando barranco abaixo. Um rosnado de dor sai de sua boca, mas ela levanta e continua correndo, já estava completamente fodida antes, mas alguns machucados, não são nada. Depois de alguns minutos, Maeve logo avista a entrada do imponente castelo e os corpos que exalam aquele odor desagradável de morte, perto da porta principal. 

 

As criaturas noturnas conseguem alcançá-la, não há mais como correr ou fugir. A mestiça não tem tempo de prestar atenção nos corpos e logo se coloca em posição de luta, sem se importar com seus ferimentos, agora sendo lavados pela chuva. Com dois dedos Maeve invoca estacas de gelo e lança nas criaturas, acertando alguns na cabeça e criando lâminas para partí-las ao meio. Apesar de sua exaustão e dos ferimentos em seu corpo, a mulher salta e cria plataformas de gelo para se sustentar no ar, atirando estacas de gelo e vento na direção das criaturas, matando-as no processo. Ela não estava gostando de sua própria brutalidade e grunhiu ao ver a bagunça que estava fazendo. Maeve odiava bagunças em suas batalhas, sempre fora elogiada por sua elegância e graça em lutas. Não gostava de ver sangue escorrendo e por isso, Maeve matava seus oponentes de maneira rápida e eficaz, mantendo a elegância que foi ensinada a ter. 

 

Novamente, Maeve ouve aquele batimento cardíaco, agora um pouco mais alto e nem cogita na possibilidade de seu próprio coração, mas infelizmente, isso faz com que ela se distraia por um breve momento. Aproveitando sua falta de atenção, uma criatura com asas a chuta para fora de sua plataforma e lança seu copo ao chão, fazendo-a gemer de dor com os impactos consecutivos.

 

Um monstro como você merece isso.

 

A morena pensa com um sorriso no rosto, sentindo sua visão embaçar. Seus olhos se fecham lentamente, mas é teimosa e quer se levantar; no entanto, o que a impede, é o barulho da porta se abrindo e o som de passos indo na sua direção. Maeve ergue seu olhar com uma certa dificuldade e se depara com uma figura alta, com uma espada perto de seu rosto, mas ela não se importa, apenas fecha os olhos, esperando o sono chegar e abraçá-la com toda a sua força. 

 

Ela estava pronta para isso. 

 

- X -

 

— Três dias. Três dias se passaram e sinto como se o mundo inteiro estivesse conspirando contra mim. — O Damphir falou se aproximando da mulher quase morta no chão. — Foi você que fez essa bagunça na minha porta?

Alucard encara o corpo da jovem mulher com desgosto no olhar. Mais um corpo para exibir na entrada do seu castelo, mais um aviso para invasores, mais uma maneira de manter as pessoas longe. Apesar de ter dois lados em conflito por conta daquele corpo, sua mente e sua moralidade, não permitiria estacar aquela mulher, enterrá-la lhe parecia a coisa correta a se fazer. No entanto, pensaria nisso depois que acabar com a bagunça do lado de fora do seu castelo. Ele lançou sua espada nas criaturas e observou as plataformas de gelo suspensas sobre suas cabeças. Ela não está morta afinal.

 

Com alguns golpes de espada, Alucard acabou com as criaturas. Não eram poderosas o suficiente para fazê-lo demorar, além do mais, ele não estava com paciência ou energia para entrar em lutas desnecessárias e novamente, se aproximou do corpo da garota. Usou a espada para examinar a moça com mais cuidado, não queria abaixar a guarda só por ela estar supostamente desacordada e por isso, virou o corpo devagar, examinando com o olhar seus ferimentos superficiais, escutando um gemido baixo de dor. 

 

Isso seria problemático. 

 

— Cuidado… — A voz da jovem garota não saiu, a palavra era como um sussurro tão surdo que nem mesmo Alucard foi capaz de ouvir. 

 

De repente, as plataformas de gelo se transformaram em estacas e Alucard desviou delas pensando que estas o atingiria, mas ao contrário do que imaginou, como estacas de gelo caíram nos membros de uma criatura que estava prestes a atacá-los, prendendo aquela coisa no chão, surpreendendo o jovem Dhampir, que imediatamente, cortou a cabeça da besta e voltou sua atenção para a garota, mantendo uma espada pairando próximo a si. 

 

Alucard cerrou os punhos com força e xingou a situação que se encontrava. Estava completamente dividido e não gostou disso. Seu lado humano e moral queria pegá-la, levá-la para dentro do castelo, curar seus ferimentos e assim que estivesse curada, a mandaria embora, para que seguisse seu rumo. Seu outro lado, queria dar uma morte rápida, queria colocá-la em uma estaca longe dos demais corpos e torná-la um aviso para as pessoas que tentassem se aproximar do castelo e consequentemente, dele. No entanto, a culpa o consumiria e toda vez, que a olhasse, sentiria algo que não gostaria. 

 

Era uma decisão difícil, mas Alucard decidiu ouvir seu outro lado. Não queria se apegar a alguém, isso só lhe traria dor, Sumi e Taka eram a maior prova disso. Eles traíram sua confiança, aproveitaram sua vulnerabilidade emocional e física para seduzí-lo e matá-lo. Eles lhe deram o doce sabor do céu e em seguida, o empurraram para o inferno, enquanto estava no auge de sua vulnerabilidade, seja iludindo sua mente com um falso afeto ou preenchendo seu corpo com um falso carinho. Por conta disso, não permitiria que mais alguém entrasse e abusasse de si, não deixaria ninguém entrar e lhe dar aquele sentimento de apego e afeto novamente, não deixaria que ninguém traísse sua confiança ou o ferisse outra vez, estava determinado. O Damphir empunhou sua espada novamente e se preparou para atacá-la, aquela mulher não sofreria e isso evitaria que sentisse culpa.

 

— Eu… eu… não vou morrer aqui... — Disse a jovem em um tom mudo, nem mesmo Alurcard conseguiu ouvir e se afastou da mulher que lutava para se levantar, cuspindo sangue, ignorando completamente suas feridas. — Eu… não vou… morrer agora… — Com bastante que dificuldade, Maeve, agora em pé, fica em posição de luta. Ela ainda não havia notado que perdera completamente a voz. — Eu… não vou morrer chorando… eu não vou… morrer consumida pelo ódio… — As mãos trêmulas se ergueram, preparando um feitiço. — Minha mãe… não queria isso… para mim. 

 

E então, os olhos de ambos se encontraram.

 

Alucard conhecia muito bem aqueles olhos. Não, não poderia ser ela

 

A garota lançou algumas finas estacas de gelo, que foram facilmente quebradas por Alucard e em seguida, algumas bolas de fogo que mais pareciam faíscas de tão mornas e fracas. Alucard suspirou, ela ainda consegue lutar? Mesmo nas condições? Se perguntou, se aproximando da jovem mulher, que puxou algum tipo de arma de fogo sofisticado e ornamentado do cinto. O Damphir examinava a arma com o olhar, enquanto a moça apertava fortemente a base com ambas as mãos e os dedos trêmulos pousaram no que parecia ser um gatilho para tentar se defender de qualquer ataque direcionado a si. Sua visão estava ficando turva novamente, embora tentasse se manter de pé, suas pernas estavam cedendo e o sangue escorria por seus ferimentos. Assim que sentira que Alucard estava próximo suficiente, o corpo da mulher fraquejou e ambos colidiram um no outro e por um momento, Maeve pôde ouvir a respiração daquele homem e aquela batimento cardíaco, o mesmo som que havia ouvido momentos antes, agora mais alto, mais calmo, mas que também, emanava tristeza e dor, porém, antes que perdesse sua consciência de vez, ela escutou.

 

— Você chegou em um péssimo momento. — O homem fez uma pausa, afastando a longa franja que cobria o rosto feminino e em suspiro parcialmente aliviado ele completa. — É bom vê-la novamente, Maeve

 

E assim, a mulher se permitiu dormir.

 

Alucard olhou para a moça inconsciente em seus braços enquanto a cabeça pendia em seus ombros, se sentindo forçado a carregá-la. Ele ficou surpreso com o fato de que ela apenas desmaiou, os ferimentos pareciam graves e o corpo dela parecia fraco e desnutrido. Maeve sempre foi teimosa, afinal, ela deveria estar se segurado por tempo demais. A roupa que a mulher usava estava destruído, sem bainha, a alça caía por seus ombros revelando o vão dos seios, no braço havia um pequeno corte e estava repleto de hematomas.

 

Por um momento, ele se perguntou o que teria acontecido com aquela mulher, que tipo de crueldade odiosa a deixou debilitada ao ponto de se permitir lutar mesmo naquelas condições, como se morrer fosse não fosse uma opção. Ele adentrou em um dos quartos de hóspedes, colocando-a na cama. Em suas memórias, Maeve era o tipo de menina que brilhava como o sol e todas as suas ações infantis e mortalmente brilhantes indicavam que ela seria muito mais do que apenas uma moradora de uma vila isolada. No entanto, naquele momento, a "brilhante" Maeve era como uma criatura quase morta em uma vala, abandonada, esquecida, apenas esperando um fim lento e certo.

 

Essa é a última coisa que ele precisava no momento, outro humano e mais uma dor de cabeça. Por mais bonitas que fossem suas memórias com aquela mulher, ele tinha total consciência de que ela não era mais uma criança. O tempo muda as pessoas e assim como ele, Maeve não era mais aquela menina ingênua e chorona de 7 anos que conheceu em sua infância. Quanto tempo ela levaria para seduzí-lo e traí-lo como fizeram os outros? Alucard poderia simplesmente jogá-la para fora, deixando o tempo matá-la sem que precisasse mover um músculo de seu ser. Não tinha paciência e estava mentalmente cansado, desejava silêncio. Sua mãe o condenaria com certeza, a voz dela o repreendendo por deixar a doce Maeve ferida e indefesa no meio de uma tempestade para ser entregue à própria sorte era fresca em sua mente, como se ela estivesse realmente ali. O olhar de decepção presente em seu rosto gentil, o amaldiçoou com todas as forças e isso o amolecia.

 

Um cheiro terrível de morte, fumaça e vinho se apossou de seu nariz e seu olhar se voltou para a jovem ainda desacordada na cama. "Não, não poderia ser ela…" Alucard pensou frustrado e levou o olhar para o corpo feminino, logo completando a linha pensamento. “Esse cheiro, não poderia ser seu, poderia?” Uma careta se formou em sua face ao pensar que até mesmo o Belmont em seus piores dias cheirava muito melhor do que a moça que ali repousava. Se arrependeu amargamente de tê-la colocado diretamente na cama e percebeu que teria que trocar os lençóis. Essa noite não poderia ficar pior. 

 

Alucard saiu do quarto terrivelmente enojado, como se aquele lugar pudesse ser considerado uma zona proibida. Correu para o escritório de sua mãe, pegando os materiais que precisaria para cuidar dos ferimentos da moça e aproveitou para pegar algumas ervas e óleos essenciais, para lhe dar um banho.

 

A mulher parecia um cadáver, pois permanecia imóvel quando voltou. A respiração lenta e errática denunciava que aquele corpo ainda possuía algum tipo de força para se manter vivo. Analisando a mulher com cuidado, Alucard notou que Maeve era bem menor do que as mulheres que conheceu. Muito menor que Sumi, Sypha ou até mesmo a sua falecida mãe e julgando por sua aparência, bem mais magra e abatida. Ele se perguntou como ela conseguiu forças para lutar contra aquela horda de criaturas noturnas, já que seu estado físico era apenas um empecilho se quisesse realmente viver. Alucard sabia que sua amiga de infância era forte, mas seu corpo estava frágil demais naquele momento. 

 

Ela não acordou quando Alucard abriu os trapos que ele se recusava a chamar de roupas, parando ao notar algo envolvendo o tronco feminino. Ele conseguia ouvir a voz da Maeve mais nova o repreendendo por despí-la enquanto estava desacordada e riu de seu próprio pensamento. Em primeiro momento, Alucard pensou que aquilo que envolvia o tronco da jovem era algum tipo de faixa para proteger os seios, mas ao ver a aparência, percebeu que se tratava de algo conectado a ela. Um gemido de dor saiu da boca da mulher quando moveu aquela coisa e percebeu um corte superficial que espalhava um cheiro incrivelmente doce pelo quarto, misturando-se com o cheiro terrível que ela também exalava. Ao desenrolar o que inicialmente pensou ser uma faixa, notou uma ponta peluda de tom negro, muito similar aos cabelos da moça. 

 

— Você nunca me contou que tinha uma cauda... — Ele comentou surpreso, acariciando a cauda da mulher com gentileza. 

 

Claramente uma característica presente em demônios e isso não o abalou de fato, mas o fez exitar. Por que salvar uma criatura tão odiosa quanto um demônio? Embora tivesse conhecido aquele demônio em específico, sabia muito bem que a sua natureza era duvidosa. Em suas memórias, ela era uma menina comum que se interessou nele e o perseguia para onde quer que fosse. Alucard não poderia ter sido tão cego na época, poderia? Ainda sim, Maeve nunca deu indícios de que era uma mestiça. Ela cheirava e se comportava como um ser humano normal e apesar de parecer bem mais ativa do que as meninas de sua idade na época, aquela menina era apenas um ser humano normal que o esqueceria assim que fosse embora. Bem, naquele momento, Maeve não precisava de sua ajuda, em alguns minutos o corpo dela estaria completamente curado, pronto para matá-lo. Ele queria jogá-la por cima dos ombros e abandoná-la na vala mais próxima, no entanto, a memória daquela menina ingênua e de sorriso brilhante se desfazendo numa imagem de uma mulher fria e de olhar triste e vazio o amaldiçoaria pelo resto de sua miserável vida. Com um semblante irritado, Alucard examinou as feridas da moça e notou que nenhuma delas fazia menção para se fechar. 

 

O Damphir grunhiu em irritação e retirou o resto dos trapos velhos que cobriam o corpo dela, junto com um pingente em formato de chave, que agora repousava na mobília perto da cama e a levou para o banheiro. Ligou o mecanismo embutido na banheira para esquentar um pouco de água, colocando um pouco dos óleos essenciais dentro da banheira e a posicionou cuidadosamente ali. 

 

— Não me entenda mal, você fede muito… — Alucard falou tocando em uma mecha de seu cabelo. — Temo que terei que cortar o seu cabelo também. 

 

A mulher não protestou, mas se moveu algumas vezes durante o banho, seja por ter tocado na cauda ou por ter tocado sem querer em algum ferimento. Alucard ouviu alguns murmúrios enquanto lavava os cabelos recém cortados e se preparou mentalmente para os questionamentos direcionados a si assim que ela acordasse, não estava com paciência para responder qualquer tipo de pergunta. Porém, a mulher não demonstrou sinais de que acordaria naquele momento.

 

Terminado o banho, Alucard se dispôs a tratar dos ferimentos dela e vestí-la com uma camisola que encontrou dentro de um baú, repousando a moça de volta na cama, agora com lençóis trocados. Não podia negar, agora que estava devidamente limpa e livre daquele odor terrível, Maeve havia se tornado uma bela mulher. Aquela menina sempre teve uma beleza incomum, era diferente das outras crianças da vila que morava e se isolava delas. A pele feminina era parda e brilhante como ouro, as sardas contemplando uma área abaixo dos olhos amendoados e ombros, destacando suas feições suaves. Se não fosse pela respiração lenta e o leve rubor em suas bochechas, acreditaria com certeza, que estava cuidando de uma escultura muito bem trabalhada e não de uma mulher. As mãos e pés adquiriram tons negros como a noite e supôs que seu corpo estava se reajustando para poder se curar. Alucard notou que aquela garota estava voltando para sua forma original, com garras em suas mãos e orelhas levemente pontudas. A menina não se transformou por completo, pois ainda mantinha características humanas. Como ele, aquela mulher tinha sangue humano correndo por suas veias e ao julgar por suas características, notou que ela também tinha sangue demoníaco, não precisava ser um especialista. Porém, o que mais lhe transtornou desde o momento que seu olhar encontrou o dela, era um cor sobrenatural de seus olhos, a cor que lembrava fortemente como pedras brilhantes de água-marinha em uma harmonia caótica de um mar turbulento e melancólico. Não era o azul ironicamente sóbrio do Belmont ou o azul cintilante de Sypha ou até mesmo o azul claro e brilhante de sua amada mãe, Lisa. Era um azul como as águas cristalinas de uma praia intocada pelo ser humano, refletindo um brilho único por conta de sua natureza.

 

Alucard a acomodou na cama, verificando com cuidado suturas na pele de Maeve e as enfaixou com linho embebido em uma solução de flor de calêndula para ajudar na recuperação. Aproveitou também para enfaixar a sutura no abdômen da mulher, já que este não demonstrava sinais de que se curaria sozinho; no entanto, tinha dúvidas sobre o tempo que ela ficaria com aquilo. Um ser humano normal demoraria algumas semanas para estar plenamente saudável, mas com uma natureza como a dela, tudo beirava ao desconhecido. Ele foi cuidadoso ao ajeitar o travesseiro atrás do pescoço dela, aproveitando para colocar sua cauda para fora do cobertor, no intuito de deixá-la razoavelmente confortável. Cauteloso, Alucard deu um passo para trás e se pôs a observá-la por alguns segundos. Seu coração se compadeceu por ser simplesmente aquela mulher, mas não abaixaria sua guarda. Não outra vez. Ela era um demônio, se recuperaria rápido e não ficaria por muito tempo. Assim que ela estivesse em condições plenas, ele a mandaria embora. Mas no atual momento, ele a observava. Não conseguiria dormir em seu quarto enquanto ela estava "hospedada" ali. 

 

Seria uma longa noite, mas naquele momento, ele se sentiu levemente feliz em rever aquela que brilhava como ouro.

 

Notes:

Espero que vocês tenham gostado! Eu amo pensar como o nome "Maeve" sairia na boca do Sr. Callis, mas sonhar faz bem não é mesmo?
Enfim, espero que tenham gostado! Pretendo postar semanalmente, talvez sábado ou domingo. Vai depender, mas geralmente será sábado ou domingo! Eventualmente, postarei no wattpad também, mas quero ver o retorno aqui primeiro ou sei lá. Não sei como funcionam as regras lá.
Bem, até a próxima semana! Bye. 😘